02 maio RASTREAMENTO DO CÂNCER DE PRÓSTATA: NOVIDADES E PERSPECTIVAS
Autores
Baseline Prostate-Specific Antigen Levels in Midlife Predict Lethal Prostate Cancer J Clin. Oncol 2016, Jun 1, MA Preston, JL Batista, KM Wilson, SV Carlsson, T Gerke, DD Sjoberg, DM Dahl, HD Sesso, AS Feldman, PH Gann, AS Kibel, AJ Vickers, LA Mucci
Sem dúvida, não há assunto mais discutido dentro da uro-oncologia nos últimos anos do que o rastreamento do câncer de próstata.
A desastrosa diretriz do USPSTF (US Preventive Task Force), datada de 2012, que atribuiu grau D de recomendação ao rastreamento, vem sendo amplamente debatida e criticada desde a sua publicação. E, mesmo com esse debate, podemos ver que essas recomendações vêm influenciando os programas de rastreamento nos EUA.
Em artigo do final de dezembro de 2015, no Journal of Urology, Barocas e colaboradores evidenciaram uma queda significativa no diagnóstico do câncer de próstata, por meio de dados do National Cancer Database americano. Comparando o período analisado, levando em consideração o período pré-recomendação do USPSTF (2010 e 2011) ao período pós-recomendação (2012), a queda no diagnóstico atingiu impressionantes 28%.
Essa redução, de acordo com a estratificação de risco de D’Amico, representa, respectivamente, uma diminuição para tumores de baixo risco, de risco intermediário, de alto risco e de doença avançada de 37,9%, 28,1%, 23,1% e 1,1%.
Em publicação do JAMA, Jemal e colaboradores identificaram a recomendação do USPSTF como o principal fator a influenciar a diminuição da implementação do rastreamento nos EUA, refletindo em uma queda de 5% em valores absolutos de cobertura para o screening na população-alvo.
E o real impacto dessa recomendação na prática clínica? Iremos aumentar o número de diagnósticos no futuro de tumores de próstata avançados?
Esta é uma preocupação iminente que será respondida nos próximos anos.
Mas, talvez, essa preocupação esteja sensibilizando o USPSTF, que, neste último mês, anunciou que estará revendo sua recomendação sobre o rastreamento do câncer de próstata.
O debate irá continuar.
E um consenso parece emergir de tanta controvérsia. Temos que racionalizar o rastreamento e o tratamento. A solução não está em abandonar o rastreamento, mas também não está em tratar todos os eventuais diagnósticos de tumores indolentes que advêm do rastreamento.
Um interessante artigo publicado neste último mês no Journal of Clinical Oncology tenta estabelecer padrões de PSA em idades mais precoces e a incidência de câncer de próstata letal.
Este estudo, intitulado Physicians’ Health Study, foi iniciado em 1982 com a coleta de amostras de sangue de 22.071 pacientes, todos estes homens que não haviam sido submetidos a rastreamento do câncer de próstata, com o objetivo realizar um teste clínico relacionado ao uso de aspirina e betacaroteno na população americana.
Após 30 anos de seguimento, foram encontrados dados que incluíam o PSA de mais de mil pacientes. Desses, 234 foram diagnosticados com câncer de próstata e 71 faleceram devido à doença. Então, foi possível avaliar retrospectivamente esses dados e checar a incidência de câncer de próstata nesses pacientes de acordo com o PSA basal.
O PSA basal era de 0,68 ng/ml, 0,88 ng/ml e 0,96 ng/ml para os homens entre 40 e 49 anos, 50 e 54 anos, e 55 e 59 anos, respectivamente.
O risco de mortalidade relacionado ao câncer de próstata teve estreita relação com o PSA medido nessas idades.
O risco de mortalidade de câncer de próstata quando o PSA se encontrou elevado, acima do percentil 90 (comparado a valores normais da mediana basal acima), foi de 8,7 vezes entre 40 e 49 anos; 12,6 vezes entre 50 e 54 anos e 6,9 vezes entre 55 e 59 anos.
Os totais de 82%, 71% e 86% de casos letais ocorreram quando o PSA estava acima da média entre 40 e 49 anos, entre 50 e 54 anos, e entre 55 e 59 anos, respectivamente.
Como exemplo, pudemos ver que os pacientes entre 50 e 54 anos com PSA superior a 2 ng/ml tiveram 12 vezes mais chance de desenvolver um câncer de próstata letal do que aqueles da mesma idade com PSA inferior a 1 ng/ml.
Outro exemplo: levando em conta pacientes com 60 anos e PSA inferior a 1 ng/ml, o risco de um câncer de próstata letal nessa população é de 0,59% ao longo de 30 anos.
Obviamente os dados desse estudo não são definitivos, mas podem nos ajudar a racionalizar o rastreamento para os extremos desses PSAs nas idades mais jovens. E o debate continua…
Ainda teremos novos capítulos, com a inclusão de métodos de imagem e moleculares no rastreamento e na estratégia de vigilância ativa, tudo no sentido de racionalizar ainda mais esse rastreamento.
Mas esperamos uma mudança definitiva para breve: a mudança do posicionamento do USPSTF.
Cordial abraço.
